21/04/2015

Ai ai minha mãe

[A leitura de Quando Fores Mãe, Vais Ver por Carla M. Soares]

Todos temos uma, e salvo os irmãos, cada um a sua, e cada qual  parece que com as suas especificidades. A minha, Deus sabe, tem uma imensidade delas, e são umas para cima, outras para baixo, umas que não trocava por nada, outras que me levam ao desespero.

Ao ler este livro, porém, juraria a pés juntos que, pelo menos nalgumas coisas, temos todos a mesma. Assim uma gigante mãe comum com um glossário acumulado de mezinhas, frases e dizeres para todas as ocasiões. Não foram poucas as vezes que dei por mim a lembrar-me de situações em que ouvi expressões dessas que, com uma ironia tão terna, a Ana Saragoça compila, explica e ilustra. A maior parte delas, como filha rebelde que fui, não me agradaram nem um bocadinho - mas agora, à distância de uma vida, o reconhecimento fez-me rir com vontade. Isso e a boa disposição com que se contam certos episódios, alguns quase familiares - pois é, Ana, eu também não tinha autorização para brincar na rua e, se calhar, também eu tenho a agradecer a isso os livros que li e... pois, se calhar até os que escrevo!

E porque eu também sou mãe, dessas modernas que fogem a sete pés de repetir o que ouviram da sua, dei por mim a fazer caretas. Pois é, eu também já disse aos meus filhos (e alunos...)  "e se os outros se atirarem a um poço, também vais?" O certo é que quem não é mãe foi filha e, para mãe ou filhas, este livro é uma pérola. É preciso ler.. E depois não digam que não vos avisei!


Nem todos os realizadores de cinema-catástrofe do mundo, com orçamento ilimitado para todos os evfeitos especiais, conseguiriam apresentar obra que chegasse aos calcanhares dos filmes que a minha mãe faz na cabeça. E atenção: ela realiza varios por dia, reunindo água, terra, fogo, ar, sexo, droga, violência, espectaculares acidentes rodoviários, aéreos, ferroviários, marítimos, animais selvagens fugidos de circos ou de jardins zoológicos, e ainda duas personagens sinistras que têm lugar cativo no elenco e a que gosto de chamar os GG - o Gandulo e o Galfarro." (pág.81)

05/04/2015

O MAR DAS MÃES

Já se sabe que o mês das mães é em Maio, mas no Colectivo NAU é quando nós quisermos, portanto será em Abril, com o livro Quando Fores Mãe Vais Ver e Outras Pérolas do Folclore Materno, de Ana Saragoça.  

Trata-se de uma compilação nada científica e em grande parte autobiográfica de frases que a autora verificou serem grandes clássicos universais do léxico materno, desde o apocalíptico ‘Se engolires a pastilha morres’ ao profético ‘Um dia vais agradecer-me’, passando pelo dramático ‘Mas que mal fiz eu a Deus?’. O cunho mais pessoal chega-nos pela via das mui específicas Alentejanices, um misto de frases regionais com outras inventadas pelas mulheres da família da autora.

Confessamos: o objectivo da NAU é passar o mês de Abril a injectar subliminarmente doses de culpa filial nos leitores. Se o nosso plano maquiavélico resultar, as mães terão em Maio um Dia inesquecível recheado de flores, mimos e – claro – livros.