[texto por Cristina Drios]
Durante a Grande Guerra, nas fileiras de
ambas as coalizões combateram artistas, alguns já de renome e outros que viriam
a sê-lo mais tarde. Entre eles – exceptuarei agora os escritores –
encontravam-se muitos músicos: o violinista Fritz Kreisler; Maurice Ravel,
compositor e pianista, que conduziu um camião na Voie Sacrée; Paul Wittgenstein
(irmão de Ludwig, o filósofo), também compositor e pianista, que compôs uma
peça só para a mão esquerda depois de lá ter perdido o braço direito. Dessas
histórias de músicos, amadores e famosos, dá testemunho Dominique Huybrechts,
autor de “Les Musiciens dans la
Tourmente, Compositeurs et Instrumentistes face à la Grande Guerre”.
A par disso, os próprios soldados, que
tinham de matar tempo nas trincheiras, entretinham-se a tocar, cantar,
esculpir, desenhar. Em todos os museus, podemos ver peças estranhas, fabricadas
com balas, obuses, metralha, que transformaram em obras de arte.
Ao passear numa feira de velharias em
Saint-Venant (aldeia onde se encontra a propriedade que serviu de
quartel-general português e que muito inspirou “Os Olhos de Tirésias”),
encontrei um livro belíssimo, contendo reproduções de desenhos a carvão, água
forte e aguarela, pintados pelos “poilus” (soldados franceses): “Croquis et
Dessins de Poilus” é uma mostra dessa brilhante arte das trincheiras.
Mas Portugal também teve os seus artistas
na Grande Guerra onde, nesse campo, se destacaram:
- o capitão Menezes Ferreira, autor
do livro “João Ninguém: Soldado da Grande
Guerra, Impressões Humorísticas do C.E.P.” (tive na mão um exemplar de 1921
que me arrependo até hoje de não ter comprado... mas que acaba de ser reeditado
em fac-símile);
- Adriano Sousa Lopes, gravador e pintor, o nosso “pintor das trincheiras”, de que parte das fabulosas águas fortes podem ser vistas – com autorização prévia – na sede da Liga dos Combatentes, em Lisboa. E é mesmo, a não perder!
- e o fotógrafo Arnaldo Garcez cuja obra está publicada pelo Estado Maior do Exército em “Imagens da I Guerra Mundial”
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