[poema de Raquel Serejo Martins, inspirado em «O Intrínseco de Manolo»]
João Rebocho Pais
é dos Olivais,
e parece-me que estou a vê-lo
de fisga na infância atrás de pardais.
Atrás de pardais, atrás de uma bola,
o golo na baliza,
no recreio da escola.
E ser dos Olivais é ser do mundo,
o prédio, a rua, o bairro, a lua ao fundo,
talvez por isso seja o Manolo do seu livro
tão meditabundo,
quando à sombra da sua azinheira,
raízes em lugar de Cousa Vã,
folhas ou pensamentos inquietos
e confidências de pássaros no vai e vem das estações.
Do João os dias também de pássaro,
asas de metal, bico afiado em voo contrapicado,
um comissário de bordo, um ser alado.
Leva saudades do chão e um recado,
não sei se gosta de fado!
Sei que prende as lágrimas aos olhos,
não é piegas e não prende,
quando ouve Cat Stevens,
e eu vou arriscar, sem cantar:
I was a child
Who ran full of laughter
My eyes full of sunshine
My heart full of smiles
Sem dúvidas, sei que gosta de futebol,
se Saramago de chuteiras, um Maradona,
digo, por dizer que são dois monstros de bons.
E no coração o seu Benfica,
dois livros,
dois filhos,
duas mulheres,
da Suécia com amor.
Mas do João, sobretudo o sorriso.
Sólido, redondo, brilhante!
Medalha merecida ao peito,
lugar no pódio,
por me lembrar um menino
que aposto era o capitão da rua.
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