[Sónia Alcaso traça o perfil de Raquel Serejo Martins]
Vamos para Trás-os-Montes, onde Raquel nasceu e de onde
herdou a garra das montanhas pardas que se viam da janela do seu quarto. É
delas que, por vezes, sente falta em Lisboa e, sobretudo, da lareira, das frutas,
do chão, do calor do Verão e do seu cheiro singular. Mas também falta nenhuma,
porque, para onde quer que vá, basta fechar os olhos para Raquel reencontrar
tudo isso dentro de si. Assim como muitas outras terras, porque são as
paisagens que fazem os homens e Raquel alimenta-se delas; viagens pequenas ou
grandes, a Costa da Caparica ou Pequim, sempre com amigos que a acompanham
nestas itinerâncias.
Raquel tem a peculiaridade de estar na vida com uma
atenção e curiosidade quase infinitas. Não nos surpreende, portanto, que se mude
de universo e se fique a saber que mesmo sendo feita de palavras, que tantas
vezes a consomem, lidas e escritas (autora dos livros "A Solidão dos
Inconstantes" e "Pretérito Perfeito", Editorial Estampa), também
lide com números e leis (economista,
pós-graduada em Direito Penal Económico e Direito Administrativo; Inspectora Tributária a trabalhar na área criminal).
Importante mesmo (para ela e para nós que a lemos) é
poder continuar a roubar tempo aos dias para escrever, mesmo que seja com uma disciplina completamente indisciplinada, a alinhavar
frases sem obedecer a regras, durante três horas, duas horas, meia hora e, como
ela mesma diz, com mãos de oleiro cego.
No final, a obra faz-se e compensa; é ela que fica quando tudo o resto
desaparece - as histórias, os livros, a desafiarem o tempo e os vendavais.
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