28/07/2014

Lembrar-me de mim

[Paulo M. Morais e a leitura de «Todos os Dias São Meus»]

«Este caderno, esta escrita, lembram-me de mim, e estranhamente não me desagrada a lembrança. De súbito parece-me apropriado aproveitar este título que o acaso me deitou ao caminho para pôr em ordem o deve e o haver da minha existência. A razão de me encontrar aqui.»
Todos os Dias São Meus (pág. 16)

Galáxia em espiral Messier 83
imagem: ESA
Eu lembrei-me de mim quando li o livro da Ana Saragoça. Recordo-me até de, na altura, ser outra a citação que mais se refletia no meu momento de vida. Algo que iluminava, em frases curtas e concisas, uma “verdade” que me estava subjacente. Porém, o nosso percurso tem tanto de constante como de irregular. O que era importante perde substância; o que era insignificante ganha peso. Por isso não escolhi a citação que tanto me disse há meses atrás. O que foi então algo quase cosmogónico, é agora um mero detalhe num quadro mais complexo.

Pouco interessa esta mudança. O importante é haver um livro que nos fica no inconsciente como tendo participado no nosso caminho. Livros que nos questionam sobre as nossas razões e atitudes; livros que nos remetem para leituras diferentes dos sentimentos que vivemos. Tenho a certeza de que quando voltar a ler “Todos os Dias São Meus” já será outro excerto a mexer comigo. Essa é a riqueza deste livrinho (que só é “inho” no tamanho): poder-nos acompanhar ao longo dos anos, mantendo a capacidade de nos dizer coisas novas. Sempre com a palavra justa, a frase polida, o parágrafo rematado. Nisso, a perfeição está alcançada. E, por estar impressa em livro, manter-se-á pela espiral do tempo como uma espécie de galáxia literária.


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