09/09/2014

perfil de Paulo M.Morais

[texto de Cristina Drios]


fotografia de Hervé Hette
Conheço pouco o Paulo. Mas gosto do que conheço.

O (des)conhecimento leva a estranhas associações: vejo um daqueles locais arqueológicos remotos, há muito reclamados pela selva e onde, no meio de todos os templos derrubados pela inclemência dos séculos, surge à luz do poente, a solidez de uma única coluna ainda erguida. Foi esta a imagem que me veio à cabeça quando comecei a pensar em como iria abordar a difícil tarefa de escrever o “perfil” do Paulo. E é assim que, ouvidos relatos na primeira pessoa, depois de alguma convivência e cumplicidade, o vejo. O pilar que resta incólume depois de tudo ruir à volta. Ou seja, alguém em quem se pode absolutamente depositar a dádiva da confiança. 

Conhecemo-nos porque amigos comuns acharam curioso termos publicado o nosso primeiro livro em 2013, quase ao mesmo tempo: o meu com lançamento a 9 de Abril, o do Paulo a 19 de Abril. Da comunhão de ser novato na função de escrever e publicar romances – porque o Paulo vem de outras escritas, o jornalismo – nasceu uma curiosidade, depois da curiosidade uma empatia, e logo a inevitável amizade. Mas sobre isso não me alongarei: podem reler o maravilhoso texto do Paulo “Uma Coisa Sem Importância Aparente” publicado aqui no blogue há uns meses.

fotografia de Paulo Pires
Como outros marujos desta NAU (curiosa particularidade, ou talvez nem tanto, em tratando-se de escritores), também o Paulo guarda debaixo da sua inata sociabilidade uma forma muito peculiar de se virar para dentro que, citando o perfil escrito pela Carla (M. Soares) sobre a Ana (Saragoça), “os que se viram para dentro adivinham uns nos outros”. E, acrescento eu, respeitam uns nos outros. Partilhar silêncios é talvez uma das coisas mais difíceis, sobretudo entre pessoas que mal começaram a conhecer-se. Com o Paulo, já partilhei longos silêncios entre paisagens contemplativas ou quilos de sacas de favas para descascar. Não há nada mais extraordinariamente belo e raro numa amizade.  

Porém, dentro dos silêncios, há um mundo fervilhante, denso e quase tumultuoso que se esconde por debaixo das águas seguras e tranquilas em que se lhe movem os gestos. A determinação e a resiliência de quem sabe qual é o caminho a trilhar e não abdica do sonho face às dificuldades, sempre com o seu apurado sentido de humor, são uma inspiração e um exemplo. E esse mundo está nas suas personagens, nos seus textos, nos seus romances, no “Revolução Paraíso” e nos que, a publicar em breve, a sua generosidade já me permitiu ler. Não deixem, portanto, de entrar nesse mundo, lendo-o!

Ainda conheço pouco o Paulo. Mas sei que vou gostar cada vez mais do que conhecer. 


     

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