[Pedro Almeida Maia e a leitura de «Alma Rebelde»]
“Santiago deixou o cadeirão onde
se refastelara e veio apoiar-se descontraidamente no piano, enquanto Chopin
enchia o salão. A D. Ana, pareceria provavelmente distraído com o movimento dos
dedos nas teclas, mas Joana sentiu os seus olhos pousados sobre ela. Pressentiu
que observava mais a curva do seu pescoço do que o movimento das mãos, e a
vibração atravessou-a.”
(Carla M. Soares in
Alma Rebelde, pág. 137).
Escolhi este trecho por refletir
algumas das subtilezas usadas no discurso da autora, neste Alma Rebelde. A história situa-se na Lisboa do século XIX e é um
romance da burguesia dos casamentos prometidos. Joana e Santiago, destinados a
juntar vidas, passeiam-se pelo texto e extasiam o leitor, numa leitura quase
impossível de interromper, cadenciada, como se Carla fosse dona de uma batuta e
nós fôssemos a orquestra.
Carla M. Soares escreve como se
deseja ler, com expansão e atrevimento poético. A sua sensibilidade feminina
convida a uma viagem rumo à liberdade. Envolve as personagens e transforma a
frieza em calor, a desconexão em enredo, com uma simplicidade elaborada e
cativante. E o mais interessante é que esta história podia mesmo acontecer, no
seu tempo ou fora dele, algures em Lisboa ou noutro lugar, longe ou perto
daqui. Afinal, a felicidade pode estar em qualquer lado.
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