[Raquel Serejo Martins e a leitura de «Alma Rebelde»]
O seu corpo era uma propriedade, como as casas da família, os móveis, as carruagens, o ouro e café do Brasil que o avô e o pai tinham negociado. Tinha sido educada para saber comportar-se e conversar socialmente e dançar, mas acima de tudo para obedecer.
In Alma Rebelde, Pág. 15
O seu corpo era uma propriedade, como as casas da família, os móveis, as carruagens, o ouro e café do Brasil que o avô e o pai tinham negociado. Tinha sido educada para saber comportar-se e conversar socialmente e dançar, mas acima de tudo para obedecer.
In Alma Rebelde, Pág. 15
- Nunca decidi nada na minha vida, Santiago. Quero dizer, já escolhi vestidos e flores, e livros… mais ou menos. Mas nunca pude decidir nada de importante… fiz sempre o que meu pai me ordenou, quando e onde e como achou conveniente. Estudei, convivi e casei como achou melhor.
In Alma Rebelde, Pág. 235
In Alma Rebelde, Pág. 235
Um romance sobre uma história de amor.
O amor já foi assim, não muito longe daqui, no
Portugal do século XIX, com pais mercadores a decidirem a conveniência do negócio.
E, talvez porque me incluo no género, gostei
muito das mulheres que encontrei neste livro, de perceber o lugar que cada uma
ocupa no tabuleiro e como se sentiam no lugar, no quadrado, que lhes foi destinado,
num tempo em que a palavra destino em função da classe social de origem tinha tanto
cabimento.
Assim temos Joana, a protagonista, e a sua impotência
ao ver-se obrigada a um casamento por conveniência, situação que chama a si de
imediato, comigo foi assim, a empatia do leitor, mesmo se excessivamente
dramática porque dada a sofrer por antecipação.
Ester, a prima, amiga e confidente epistolar,
que relata na primeira pessoa as vivências quotidianas de um casamento, por
conveniência, com o Velho, velho em todos os sentidos, protagonista de uma
história em paralelo.
Alice, uma amante
prévia do futuro marido, uma mulher independente que podia afirmar-se como
amante, não fosse porém, ao caso, a falta de amor.
Rosária, a ama de Joana, presente como uma
mãe, um rosário de carinhos e desvelos.
D. Ana, a sogra que viveu e vive a mesma
realidade, que vê história repetir-se, ou quase repetir-se, pois sabe, como
todos sabem dentro da nova casa de Joana, o quão pai e filho são diferentes.
Brites, a velha criada, como se uma avó do
menino, do futuro marido.
E não posso não falar de Santiago, mais livre
porém, em rigor, na mesma condição.
Santiago e Joana, dois pássaros cegos a voar
em torno um do outro, em colisão, em tentação, em desafio, em desabafos, um
namoro tão bonito de ler, os sorrisos do leitor perante os choques, os avanços,
os recuos, por perceber, quando ainda as personagens não sabiam que se moviam
pelas mesmas razões, pelos mesmos sonhos.
Enfim, uma história com final feliz apesar de
ter tudo para um final infeliz, porque o prometido marido é tudo menos o que se
esperava que fosse.
Sem comentários:
Enviar um comentário