[a leitura de Dizem que Sebastião por Sónia Alcaso]
“A cada mês que passava do previsto ano
sabático, a casa de Sebastião ganhava novos contornos. Agora, havia livros
espalhados pelo chão, mapas da cidade, horários de teatros, desdobráveis de
exposições, anúncios de espectáculos. A ironia de ter desperdiçado grande parte
da vida amealhando sem sentido dava lugar à certeza de que alguém escrevia
direito por linhas tortas”.
(página 141, “dizem que
sebastião”)
Um clic num momento de vulnerabilidade e um
homem, que antes não passava de um monte de ossos a viver da secura de meia
dúzia de pílulas vitaminadas, ganhou uma nova engrenagem. Um desaire amoroso e um susto de saúde (podia
ser qualquer outra coisa) e Sebastião rendeu-se à evidência... Rendamo-nos
também nós!
Por solidariedade com a personagem, ou porque não
passamos de comuns mortais, ao lermos este livro, muitas coisas acontecem e,
por dentro, passamos a estar inteiramente com Sebastião. Espreitamos-lhes os
gestos, acompanhamo-lo nos seus encontros com as estátuas dos escritores,
bebemos-lhe os diálogos, solidários com a procura da verdade que ele não sabe
onde está, mas que nós percebemos que está ali, espelhada pelas ruas de Lisboa.
E, no fim de tantos percursos culturais, ficamos todos – nós e ele -, perante
uma melhor compreensão de quem somos.
Quem tem a sorte de conhecer pessoalmente João
Rebocho Pais, reconhê-lo-á, decerto, nestas páginas, na paixão pela literatura,
no humor com que envolve as palavras e, sobretudo, na atenção que dedica à
poesia que existe fora dos poemas.
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