19/03/2015

Clic

[a leitura de Dizem que Sebastião por Sónia Alcaso]

“A cada mês que passava do previsto ano sabático, a casa de Sebastião ganhava novos contornos. Agora, havia livros espalhados pelo chão, mapas da cidade, horários de teatros, desdobráveis de exposições, anúncios de espectáculos. A ironia de ter desperdiçado grande parte da vida amealhando sem sentido dava lugar à certeza de que alguém escrevia direito por linhas tortas”.
(página 141,  “dizem que sebastião”)


Um clic num momento de vulnerabilidade e um homem, que antes não passava de um monte de ossos a viver da secura de meia dúzia de pílulas vitaminadas, ganhou uma nova engrenagem. Um desaire amoroso e um susto de saúde (podia ser qualquer outra coisa) e Sebastião rendeu-se à evidência... Rendamo-nos também nós!

Por solidariedade com a personagem, ou porque não passamos de comuns mortais, ao lermos este livro, muitas coisas acontecem e, por dentro, passamos a estar inteiramente com Sebastião. Espreitamos-lhes os gestos, acompanhamo-lo nos seus encontros com as estátuas dos escritores, bebemos-lhe os diálogos, solidários com a procura da verdade que ele não sabe onde está, mas que nós percebemos que está ali, espelhada pelas ruas de Lisboa. E, no fim de tantos percursos culturais, ficamos todos – nós e ele -, perante uma melhor compreensão de quem somos.

Quem tem a sorte de conhecer pessoalmente João Rebocho Pais, reconhê-lo-á, decerto, nestas páginas, na paixão pela literatura, no humor com que envolve as palavras e, sobretudo, na atenção que dedica à poesia que existe fora dos poemas.


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