E quase de certeza, se apostasse não
perdia!, que à mesma hora, duas ruas abaixo, o Pedro entretido nos mesmos
afazeres, com a minha, como a nossa Bo.
Raquel Serejo Martins, Pretérito
Perfeito, página 118
Este
Pretérito Perfeito da Raquel é como as cerejas, no meu caso azeitonas, que são
como as conversas: nunca se sabe que voltas dará. O que é surpreendente, dado
que o ponto de chegada do livro nos é dado logo à partida.
E no
entanto.
Tantas
e tantas taças de cerejas, ou pires de azeitonas, se consomem entre aquela
partida e aquela chegada, tantas vezes a boca se retrai com uma cereja, ou
azeitona, brutalmente ácida quando já nos deixávamos embalar na delícia, tantas
vezes quis dizer não, Vasco, não, Raquel, engana-me, tu que tantas reviravoltas
dás na escrita surpreende-me com uma última pirueta, vira-te para mim e diz era
a reinar, pá! Acreditaste, és mesmo totó, vá, come lá mais uma cereja, ou uma
azeitona, e deixa-me encher-te o copo, que estás com carinha de choro.
O que
tem todo este arrazoado a ver com a citação que escolhi para o encabeçar? Nada,
ou tudo, porque a escolhi totalmente ao acaso, abri o livro e li a frase, e
bastou aquela frase para me me recordar tudo o que antes dela lera e tudo o que
depois dela li. E saber encadear escritas como quem encadeia conversas que são
como cerejas, ou azeitonas, acreditem, não é para qualquer um. É para uma
cereja tão, mas tão especial que se escreve com S.
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