Que dizer de um livro que se devora? De uma história que se consuma na mente do leitor sem qualquer esforço? Ainda mal abrira a capa, e já me deixava seduzir pelo misterioso equídeo em tecido colorido, que Ana Saragoça usa como adorno alfaiado deste Todos os dias são Meus. Saragoça não meteu propriamente Alberto Caeiro no papel, mas corre-lhe nas veias a magia do heterónimo pessoano.
São as primeiras páginas que prendem. As primeiras frases, palavras e interpretações colam-se à fantasia como mel nos dedos. Tal como manda a lei — se é que ela existe —, é impossível abandonar o misterioso acontecimento, revelado mal se abre a porta às hostes. Como apreciador de um bom crime literário — sublinhe-se, no papel — sou irrevogavelmente suspeito, mas daquela irrevogabilidade verdadeira. Saragoça algemou-me ao papel e deitou fora a chave.
fonte: Wikimedia Commons / Klaus with K |
Neste estilo, puxando a brasa ao meu favorito, se a escrita de Ana Saragoça não vale ouro, não vale nada. Ana provoca e domina, induz expetativa, curiosidade e envolvência, relata o caos e até o erotismo com graça e muita audácia. Preciso de subir neste elevador. Preciso de mais uma dose.
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