[Paulo M. Morais e a leitura do «Capítulo 41»]
«- Os produtos regionais aqui tão perto e andam p'ra aí a
servir o que vem de fora! Mesmo deveras... era taponas! E as pessoas também têm
culpa, se pedissem sempre o que é regional, acabava por se vender mais! O
consumidor é que manda, senhora!»
in «Capítulo 41 - A Redescoberta da Atlântida»
Tive a felicidade de deslocar-me aos Açores, em trabalho,
durante quatro anos consecutivos. Do somatório de tempo que lá estive, posso
dizer que conheço oito ilhas entre o muito bem, o bem e o razoável, apesar de
ter efectuado as viagens sempre no Inverno, muitas vezes com condições
atmosféricas complicadas para quem precisa de apreciar paisagens, percorrer
trilhos, visitar localidades. Falta-me o Corvo, entre outras espinhas atravessadas
na garganta (como a escalada ao topo do Pico), mas mantenho a esperança de um dia aportar naquela ilha com cerca de 400 habitantes.
Fábrica de Queijadas da Graciosa Foto: Paulo M. Morais |
Uma das experiências mais gratificantes nas estadias
açorianas foi o contacto com a gastronomia local. Melhor dizendo, com os produtos locais. A
riqueza de sabores vai muito além dos por demais conhecidos Cozido das Furnas,
chás de Porto Formoso e Gorreana, Queijo da Ilha de São Jorge, ou Ananás de São
Miguel. Há o leite e a manteiga, claro, bastante difundidos em Portugal
Continental. Mas o meu menu açoriano inclui ainda o queijo fresco com
pimenta-da-terra, o polvo guisado com vinho de cheiro, as lapas de Molho
Afonso, as queijadas da Graciosa (...comidas na fábrica), o inhame com
linguiça, as amêijoas da Caldeira de Santo Cristo, as fofas do Faial, o café da
Fajã dos Vimes, o bolo lêvedo, o queijo do Pico, os vinhos da casta verdelho, a
alcatra de carne ou de peixe, os bolos Dona Amélia, as queijadas de Vila Franca
do Campo, os bifes de vaca ou de tubarão...
Nos Açores privilegiei a comida local, como acontece quando
viajo. Nas vezes em que fiquei insatisfeito com a escolha, a falha esteve na falta
de respeito pela frescura e qualidade do produto. [Em Portugal, seja
Continental ou Ilhas, existe a tendência de cozinhar demasiado os alimentos.] É
verdade que alguns destes produtos já estão disponíveis nos supermercados do
território continental. Mas acreditem que lá, naquele arquipélago de
deslumbres, o sabor é incomparavelmente superior. Pela questão da frescura,
claro; mas também pode ser influência da magia intrínseca dos Açores que
contagia os visitantes...
E agora, que já abri o apetite, pergunto o que em tempos perguntei num texto do meu blogue: E
se um dia os leitores passassem a privilegiar a leitura de autores portugueses?
Que aconteceria nesse momento ao nosso mercado editorial? Duma coisa estou
certo: actualmente, há escritores nacionais em quantidade e qualidade em
qualquer dos géneros literários. E se são desconhecidos, pois é por estarem na
sombra dos grandes nomes internacionais que tudo ofuscam.
A viagem que fiz com o livro do Pedro Almeida Maia entusiasmou-me
e atiçou-me as saudades dos cenários extraordinários onde se desenrola a
aventura do «Capítulo 41». Já há uns anos que não vou àquela
"Atlântida", quase a meio caminho entre dois continentes.
Agradeço-te, Pedro, pela lembrança. Por isso, assim que possa, vou tentar regressar
a essa minha segunda casa e visitar-te. Preparas a mesa, no intervalo de
escreveres novos livros?
Alcatra de peixe, na ilha Terceira Fotografia: Paulo M. Morais |
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