14/10/2014

Um livro com chão e mar

[Raquel Serejo Martins e a leitura de «Capítulo 41»]

«Fausto Mello Sardinha , o terceirense de cabelos grisalhos nascido no ano de sessenta, caminhava pela Alameda do Mar de mãos dadas com a companheira, oito primaveras mais nova. Marília Bettencourt deixava que o cheiro da maresia lhe conquistasse os sentidos, que a brisa lhe remexesse os cabelos castanho-claros e que a paisagem banhasse os olhos alegres e vivos, enquanto o terceirense corroía-se de inquietação.
- Até gosto de morar aqui, mas sinto falta da minha Angra. Não tens saudades da Horta?
- Deixa-te de coisas, Fausto! Por mais que goste do meu ninho, já precisava de uma experiência diferente. Este mundo é tão grande, cheio de coisas para ver…»
in Capítulo 41 - A Redescoberta da Atlântida (pág. 21)


O livro é um policial, se eu fosse italiana diria tratar-se de un libro giallo (um livro amarelo, ficaram curiosos?) e, porque é um policial, não vou ser desmancha-prazeres (sou exímia a guardar segredos) e não vou falar da intriga, da acção, do enredo, da história, da estória, do assassinato do professor universitário Paolo Benevoli, responsável pela investigação, com carácter secreto e confidencial, da localização da Atlântida, da seita Free the Landscape of Atlantis, das recentes evidências arqueológicas sobre a passagem pelos Açores de navegadores prévios aos navegadores portugueses e da correspondente polémica, do Sargento Gomes, dos irmãos John Ricardo Mello e Fausto Sardinha Mello, do estilo veloz da narrativa que imprime velocidade à leitura, o suspense bem doseado, dos diálogos, do ambiente de conspiração, da cadência da acção, da sequência de imagens e dos planos bem gizados, tanto que dizê-lo cinematográfico lhe assenta bem, eu fiz o filme.

Não vou falar da estória mas vou falar do lugar da estória, dos Açores onde tudo acontece, apesar de eu, do arquipélago, das nove ilhas só conhecer São Miguel, o que deve ser como de um corpo inteiro só conhecer uma perna, um pé, um ombro, pouco mais do que um nariz, e mesmo assim eu apaixonada pelo Açores, onde os meus pés assentaram tão bem no chão, e o autor fez isso, sem bilhete de avião, que não é barato, diga-se de passagem, levou-me para a sua ilha e foi bom, muito bom, talvez porque também eu nasci numa ilha, Trás-os-Montes era uma ilha apesar de outro o verde e sem o azul das hortênsias.

visto sobre a cidade e baía da Horta
fotografia: Paulo M. Morais

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