16/11/2014

A certeza das coisas intemporais


[A leitura de ' Alma Rebelde ' por João Rebocho Pais]


  "... Um sobressalto constante, Assim foram os seus primeiros dias. Não que tivesse acontecido alguma coisa, pois os dias correram com uma tranquilidade assustadora. E não, ninguém a tratou mal, longe disso. A inevitável agulhada da humilhação não a trespassou, afinal ninguém a fez sentir-se a intrusa que era ... "


E. BERGER-REVAL - Uma jovem lendo

Quando falei com a Carla, quando abordámos o Alma Rebelde percebi-lhe a vontade de reentrar neste seu livro, reescrevê-lo e trazer-nos a história noutros contornos. Porquê? ... perguntei-lhe.

Quando escrevemos algo, quando regressamos a esse algo que passámos ao papel, encontraremos sempre e inevitavelmente uma luz nova, uma cor, um desenlace ou descrição que melhor retratariam a coisa. Pois Carla, li o Alma Rebelde de enfiada, redescobrindo o prazer juvenil que a leitura desde sempre me trouxe. Fui querendo adivinhar o que viria e fui esbarrando nas minhas certezas, deixei-me levar por uma escrita que de um modo limpo e transparente me levou a um passado que hoje me parece ficção. A todos nós certamente. 

Joana, Brites, Ester... poderia escolher outras mais, trazem-nos a certeza das coisas intemporais, por muita distância que imaginemos delas e de tempos simultaneamente longínquos e actuais. A beleza de uma história reflecte-se no tempo que proporcionamos ao leitor de se agarrar a algo e dele fazer sua vivência e interpretação. Quando essa história nos leva a viajar no tempo, nos traz locais e costumes que pensamos terminados, quando lemos e nos vemos parte da história, espreitando, escutando, desejando, desdenhando e recriminando coisas de personagens, então é porque o autor ou autora nos souberam levar até lá. E a tua 'Alma' levou-nos a todos, adultos e adolescentes, a experimentar a sensação de querermos arranjar espaço dentro de nós para um mundo de gente e personagens que tão bem desenham uma época, um manancial de costumes.

E, no dia em que deixarmos acabar esta perspectiva de escrita e leitura, de nos deixarmos ir de braço dado na aventura, teremos certamente abdicado de uma das fascinantes oportunidades que nos traz a leitura.

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