[Texto: Ana Saragoça]
A
guerra que se iniciou em 1914 na Europa ia acabar com todas as guerras.
Governos, imprensa, e sobretudo jovens partiram cantando em direcção aos campos
de batalha, a uma vitória mais do que certa, como certo era o regresso antes do
Natal. O massacre a que todas as partes foram submetidas teve a dimensão
diametralmente oposta às expectativas, e, em 1918, expediu de volta a casa os
poucos que restavam com incuráveis cicatrizes físicas e emocionais. Não mais se
partiria para um conflito de coração ligeiro e canções na boca, não mais
haveria certezas sobre bem, mal, patriotismo, medo, cobardia, traição. Geração
Perdida se chamou àqueles farrapos humanos incapazes de vislumbrar qualquer
esperança, qualquer encanto, no mundo que tinham deixado para trás, cegos e
destruídos pelo gás-mostarda, emudecidos pelo horror. A Grande Guerra continua
a ser uma, a primeira travada na Europa no século XX. Não a que acabou com
todas as guerras, mas a que matou para sempre a inocência.
Graças
ao tema deste mês na NAU, apercebi-me de que minha iniciação na grande
literatura se deu precisamente com os autores mais afectados por este conflito
brutal. Não foi uma iniciação deliberada: aos onze anos descobri a Colecção
Dois Mundos, da Livros do Brasil, e fui por ali fora com um apetite devorador.
Deixo-vos
alguns dos títulos por onde a Grande Guerra passou e que me marcaram de modo
indelével. E duas canções dos anos 80 que até hoje sei de cor. E a certeza,
agora mais que provada, de que as guerras só têm vencidos.
Do que foi lido...
Somerset Maugham – O Fio da Navalha
Somerset
Maugham foi condutor de ambulâncias na frente, e demonstrava uma temeridade que
assustava até os próprios camaradas.
Roger Martin du Gard – Os Thibault
Além
de traçar um retrato meticuloso da sociedade francesa antes, durante e após o
conflito, é muito útil para compreender as origens profundas da guerra que
desfez a Jugoslávia já nos nossos dias.
Thomas
Mann – Montanha Mágica
Começou
a ser escrito muito antes da Guerra, e esta transformou-o num livro totalmente
diferente da pequena novela inicialmente pensada pelo autor.
Ernest
Hemingway - O Adeus Às Armas
Hemingway
é, dos grandes nomes desta geração, o único que detesto. Detesto com
conhecimento de causa, porque me obriguei a lê-lo todo com a tenacidade
adolescente de quem se sente culpado por não gostar de alguma coisa. Este é,
juntamente com Por Quem os Sinos Dobram, o único que realmente me tocou.
Erich
Maria Remarque – A Oeste Nada de Novo
O
único que li escrito por alguém ‘do outro lado’, e que me tocou mais do que
todos os outros juntos. De tal modo que, ao ler Os Olhos de Tirésias, me
emocionei quando encontrei Remarque.
E ouvido...
E ouvido...
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