23/09/2014

Um outro lado da Revolução

[Pedro Almeida Maia e a leitura de «Revolução Paraíso»]


Tal como o quase açoriano Paulo M. Morais, não vivi antes nem durante o ano de 1974. Talvez por isso me seja particularmente difícil imaginar o constrangimento anterior ao 25 de Abril, mas também o sentimento de libertação do Verão Quente, os meses que se seguiram à Revolução. Ler o Revolução Paraíso transmitiu-me exatamente isso: um sentimento de libertação a cada capítulo. O leitor sentir-se-á tão atraído como uma borboleta em direção à luz.

A história é um dédalo de estórias singularmente caricatas, que giram em torno da redação de um jornal, um sótão camuflado e uma Lisboa renascida. As personagens genialmente desenhadas têm personalidades contrastantes e deliciosamente realistas: Adamantino Teopisto, César Precatado, Manuel Ginja, Viriato, Deodete Machado, Raul, Pandora, Adão e Eva — porque estamos próximos do paraíso! E não se pode esquecer a fadista Amália, que afoga mágoas dos carenciados, pois o cariz carnal desta obra está inteligentemente entrosado: “Viriato granjeava sucesso entre as mulheres, atraídas pela figura alta e encorpada, o cigarro ao canto da boca como faziam os galãs de cinema, o bigode farfalhudo e o cabelo abundante a prenunciarem proezas sexuais” (pág. 65-66).

As qualidades de jornalista revelaram-se nesta obra, não só na dedicada investigação como na paixão impressa em cada frase, tal como o jornal que luta pela tiragem e pelos leitores, tentando revelar mais verdades do que apenas a data. Escrever sobre o 25 de Abril nunca será fácil para os não contemporâneos, mas o Paulo M. Morais inverteu o estigma, até porque a escrita não veio dele, mas através dele. Foi extasiante conhecer este lado da Revolução.

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